quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O que somos?





Cada  gota não é toda a chuva ;
Cada  dia não é todo o tempo.;
Cada um não é todo mundo.;
Cada amor não é toda a vida;
Mas no deserto, pingos;
Na escuridão, o  alvorecer;
Na espaço, um encontro;
Na existência, algum sonho;
É tudo que se pode ter.

O que a mais se experimenta,
O que mais se deseja,
Se mais se almeja,
Se verá caído em ilusâo.

Ora,  o que é viver sem se iludir?
O que é pensar sem criar?
O que é querer sem poder?
O que é fazer sem sentir?

É tudo que somos,
É tudo que a prisão nos permite,
É tudo que a condição nos conduz,
Sem a quimera da revolução.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O que faço aqui?


Sou ser estranho no espaço,
No tempo, em mim,
Nesses dias sem fim.

Não sei mais se aqui estou,
Não sei mais se estou,
Mas é inegável que sou,
Mesmo quando tudo já sangrou.

Duas pessoas se encontrarem
E juntos viverem,
Não é racional,
Mas se afastarem é anormal.


segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Mar doce




Sou como o peixe que sobe o rio
Para  deixar seus ovos na cabeceira.
E não desisto!
Enfrento os medos que crio
E contra as correntes, forço minhas nadadeiras.

Não importa se lá vou deixar meus futuros,
Se lá vou chegar,
Se vou morrer no que não aturo.
O importante agora é nadar,
Enfrentar o redemoinho e esperar,
Esperar que o tempo me diga,
Diga o que realmente esperar.

Um acontecimento mágico
Como nadar em salgado mar, peixe doce
Ou  rotineiro
Como uma decepção, um coice.


quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Mar alto


Aqui estou só
Numa noite às cegas.
Isso nem é o pior,
Isso me faz piegas.

O pior é a cegueira do futuro
E não saber o que virá do presente
E descobrir até onde aturo
E até quando serei sobrevivente.

O rio desistiu de me alcançar,
Eu também me revoltei em ressacas
E me furtei da bênção de ser mar,
Desisti de minhas conquistas parcas.

Agora quero viver de novo,
Avançar em tsunamis;
Quero arrancar a casca desse ovo
Para nada ser como dantes.


Corrompido, coagido, corroído, comido;
ardido, doído, fudido, muído.
Encardido enrustido, entristecido embrutecido.
Repartido, sorvido vivo.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Ao Paraíso

Amarramo-nos com arame afiado;
Um ao outro.
Cortamo-nos cada vez que nos mexemos;
Um pelo outro.
Machucamo-nos cada vez que corremos;
Um contra o outro.
Viramo-nos para ver o que se enxerga, ele nos aperta;
Um para o outro.
Precisamos, desse arame, nos desvencilhar;
Um com o outro.
Para novos limites descobrirmos;
De um e de outro.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Presente.



Sua presença é imensa.
Parece um elefante
A sentar no meu quadrante;
Parece uma doença.

Sua presença é ignorante.
Me menospreza
Enquanto pesa;
Me é humilhante.

Sua presença é confusa.
É tão incerta como a chuva
Depois de uma trovoada escusa;
É tão intrusa.

Sua presença é saudosa.
Quando está comigo não sei ter,
Quando não está, só sei querer;
Está nervosa.

Sua presença é inconstante.
Não sei se é próxima,
Se é lástima;
Se dura por mais de um instante.

Sua presença é explosiva.
Minhas regras estoura e
Minhas certezas apavora;
Sempre reativa.

Sua presença é estranha.
Devora minha razão,
Desvirtua meu tesão;
Me entranha.

Sua presença assusta.
Não sai dia que não me tome,
Não entra noite que não me dome;
É como a fome.

sábado, 27 de novembro de 2010

Falsa idade





Se eu depender do meu amor para ser amado,
Estou ferrado;
Seria um amor esquizofrênico, o amor de um torturado pelo seu torturador,
Um estranho amor.

Amor requerente do meu querer
Que comigo quer viver;
Amor carente, afluente de mangue
Que se acaba em lama de sangue.

Amor mor obrigado pelo outro,
Mas inalcançável ao outro mor,
Rezado em cartilhas,
Que de memória tenho de cor.

Amor que eu deprecio,
Enquanto me estupra,
Por que só no meu cio
Me encrua.

Mas desse amor dependo
Enquanto me defendo,
Para poder ter outros amores,
Para ser confortado em minhas dores.

Se do meu peito virem
Formas multicoloridas saírem,
Saibam que guardei em mim a sombra escura,
Ficou engendrado em mim o que corta e sutura.

Mas a certeza da tristeza,
Obriga-me a me acarinhar com firmeza.
Preciso acabar com essa vitimizada piedade,
Até por que já passei da idade.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

"As àrvores são fáceis de achar..."


Subi numa árvore
Não era mangueira, amendoeira ou figueira.
De lá só vi pedreiras.
Desci, pois passei a pensar besteiras,
Pensei em atirar pedras a esmo,
Para ver se alguma era bumerangue
E voltaria na minha cabeça,
Se me tiraria sangue.
Encontrei uma clareira,
Mas fiquei no precipício à beira
E mais uma vez pensei besteira:
Que eu poderia voar sem asas,
Flutuar de leve,
E terminar em breve
Esses dias que não têm mais sentido.
Não para ser ouvido,
Mas para ver de cima,
Se era realmente aquela jaqueira.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Tradução livre de There There de Thom Yorke


A plenos pulmões, pela escuridão, passeio em sua paisagem,
A densidade da floresta dificulta meu caminhar e impede minha voz de sair,
Só porque você sente não quer dizer que exista!
Só porque você sente não quer dizer que exista!
Uma sirene sempre a avisar,
Enquanto foge.
Evitemos desastres, contornemos as pedras,
Enquanto foge.
Só porque você sente não quer dizer que exista,
Então sinta,
E diga-me por que tão insegura e solitária me foi enviada?
Isso acende minha certeza de que
Somos apenas acasos esperando para acontecer,
Somos apenas acasos esperando para acontecer.


sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Crisis

Não há contágio,
Não há o que temer.
Se vibra, não é ensaio,
É a vida que vai desvivendo;
Que está perdida,
Que não tem mais norte,
Nem é dirigida.
Está à sorte.
Se não perdeu seu sentido biológico,
Perdeu-se em meio aos sinais,
Não se sabe mais o que faz;
Será um eterno desfaz e refaz,
Sem um momento de paz ou de estabilidade,
Sempre em crise (é condicional).
E se em algum momento a brisa acalma,
Arranja-se um conflito, um tufão a sorver,
Visto que inimigos sempre hão de ter
Que os dias sempre vão correr
Nesse mundo que dá voltas em si mesmo,
Achando que assim não ficará a esmo,
Achando que a referência do Sol é suficiente,
Ignorando outros sóis existentes,
Pensando que a Lua orbita apenas por sua influência
E se esconde assim na ciência.
Mas não a sua, transcendental,
E sim a humana, sempre servil,
Isso para não dizer vil.
Talvez seja besteira
De uma cabeça que percebe a clareira
E tudo que é verde em tom pastel:
Sol, Lua ou Terra não são de saber,
Ao menos a sapiência que impomos;
Essa mesma que não é contagiosa
E cria sentidos que não dão conta
Do que é humano ou além;
É inexoravelmente aquém.
Então confunde,
Cria a angústia, sempre perturbadora;
Por vezes, com a força criadora,
Por vezes destruidora.
É que não somos nós, tão somente, que damos o sentido;
É-nos dado enquanto resignificamos,
Mas ele já vem maculado, corrupto.
Como fazer nascer de algo podre o saudável?

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

doente?


essa doença que não me abandona
só me faz querer mais
mais boicote
mais desilusão
mais dor
mais compaixão
e menos
menos companheirismo
menos cuidado
menos sensibilidade ao outro
não percebo à minha volta
e vou me afundando
chafurdando em minhas dores
preciso da minha força
mas pouco me faço carinho
só me arrebento
me bato sem dó
mas com muita piedade
piedade demais
sou como a criança que se perdeu no mercado
e chora ansioso pelo colo da mãe
carrego um saco de chumbo
sem chumbo e sem saco
o único saco que existe é o meu
e ele já está cheio de mim

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

A TENÇ(S)ÃO


Ando por aí vomitando minhas tristezas,
Arrotando minhas insatisfações,
Regurgitando falhas e tesões.

Por aí me faço ocupando muito espaço
E pelo mundo me faço fraco e vitimizado
Para que não seja visto meu original pecado.

Importa-me o que os outros pensam,
Principalmente se for sobre mim,
Mas só me satisfaço se disserem que estou perto do fim.

Parece que meu amor veio cobrar suas dívidas,
Assim passo pelas pessoas cobrando pedágio.
Quero que me reconheçam como Midas,
Que me encarem como presságio.

Este momento passará,
No entanto quero aproveitá-lo,
Para quando voar de minhas costas novos pássaros
E dos meus lábios surgirem Arcos-Íris,
Eu não precisar revivê-lo.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Cita-me ou me excita?

trocadilho bobo,que pareceu bela abreviatura de uma questão feminina.
é tão raro ver referencias à mulheres, principalmente em trabalhos cujos os autores são homens. Raro não é a palavra certa, talvez não haja, talvez eventual seja a palavra. em nossos livros, trabalhos...quantas mulheres citamos em proporção aos homens...isso tudo é bobagem, devaneio,reflexo da divisão sexual do trabalho, enfim...tudo que já sabemos tão bem que continuamos a fazer igual, talvez por ser tão conhecido.
A mulher citada é excitada ou incitada, a mesma coisa da história acima...o protagonismo do pessoal da limpeza ou a historia das mulheres...

sábado, 30 de outubro de 2010

nonsense


O que estava contido esvaziou, desatinou.
Perdeu seu espaço e seu tempo,
Agora é só memória do que já foi cheio.
Transbordou o que era de si,
Se encheu.
Não mais se acha.
Envergou feio,
Perdeu a noção de si.
Noção de coisa,
Irracional-utilizável;
Noção humana de sentidos e sentimentos,
Foi e não quer saber de voltar,
Sumiu do mapa;
Agora é uma sombra patética do que já foi.
Novo talvez seja, mas já perdeu seu tempo
Lindo será, mas não terá mais seu espaço.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Nem sempre


Venha princesa,
Vamos fugir desse castelo de mentiras,
Dessas correntes de ilusão,
Dessas verdades impublicáveis,
Dessas vidas descartáveis.

Convido-te princesa,
A construir um mundo sem amarras,
Sem servidão ou escravidão,
Onde não será preciso alforria,
Onde se vive dia após dia,
Onde o futuro não será preocupação, embora a solução.

Para isso, princesa, devemos ser furtivos e corajosos,
Teremos que enganar o mercado que não é Deus,
E decapitar o capital, que faz as vezes Dele, mas não é onipresente.
Então vamos em frente.

Nesse mundo princesa,
Não serás mais indefesa;
Ainda existirá dor e confusão,
Tristeza e frustração,
Mas conhecerá amores novos, livres e dignos
Sem que esses sejam apenas signos,
Posto que de pessoas assim se erguerão,
Sem importar se é varão ou não

Mas vamos logo princesa,
O que nasceu para sempre, sempre será,
Mas sempre é muito tempo,
Eu já não agüento, muitos já não querem,
Mesmo aqueles que ferem enquanto nos quebramos.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Desilusão, contradição


Esse desequilíbrio me mantém em órbita;
Essa inconstância me faz querer mais;
Essa inquietude me dá vida;
O inconformado me atravessa,
A incerteza me refaz,
A ignorância duvida.
Quem eu seria se certo de tudo?
“só sei que nada sei” disse o pensador.
E eu que me seguro no incomunicável
Penso que conheço o mundo
E me escondo nesse absurdo;
Até quando o mundo me invade
Que aí me esqueço de tudo,
Sou tomado, apaixonado,
Certo do desconhecido me ponho ao contrário.
Não sei mais o que é sabido,
Não atento meus ouvidos
Até à desilusão, quando duvido.
Cresço e gero a insatisfação
Crio ciência do despropósito, do injusto
E quero com todos agir,
Parar o mundo para não ruir
E ele desafio,
Mas escrevo uma poesia
E me furto dia a dia,
Que é mais fácil assim
Criarem um busto de mim.    

sistema eleitoral viciado

Diante do ruim e do pior, ficamos com o menos pior! Nossa campanha anti Serra talvez não seja o suficiente para evitar o retorno do PSDB, fazer campanha para a Dilma é difícil visto que rompemos com o PT, que também rompeu com a classe...mais nada a declarar

terça-feira, 19 de outubro de 2010

vc é a coisa mais linda que eu já vi! Mas me trocou por metade de uma "poltrona cama"

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Outros Outubros ou Paquera tímida por ser congênita

Nossos encontros,
Marcados em folhinhas,
São sempre intensos,
penso.

São as lembranças de anos passados,
Crianças ouriçadas;
Agora, mulher e homem,
destemem.

São do desejo,
Que atiça nossos corpos
E perdemos a razão,
então.

Despreocupados de nossas vidas distintas,
Esquecemos a quem devemos respeito;
É que pulsa nossos peitos,
Ávidos por esses instantes.

O teu mundo me encanta,
Mas não quero ele viver;
Assim como só do meu encanto 
Queres saber.

Não sinto saudades do que não vivemos,
Das fotos que não tiramos,
Das ladainhas que não choramos;
Não mais tenho mágoas menores 
ou por ti paixão,
Mas o quê não perdemos
É aquele bendito tesão,
É a vontade de ficarmos perto, bem perto,
Para extrair de nossos escassos tempos
O carinho como conclusão.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Para quem avoa.

Criamos respeitos e afetos
Naquelas conversas de Platão;
Cultivamos uma tímida paixão,
Que logo vamos consumar;
Pois para alimentar confusão,
Já não basta dialogar.
Agora o rosto seco que, se por ora não chora, por dentro corrói e para fora autora quem cora do medo de não conseguir e se esconde para não fazer a hora, não espera, nem vai embora da paixão pungente, se pergunta quem estoura, mas nunca é quem explora, que esse sempre ignora, é o coração que controla a razão e dela aflora, porém não a deixa aflorar, apenas ancora e piora se, assim, só for carola, e não senhora, na aurora também não melhora da verve que o dever implora nessa demora e em todos os tempos urgentes extrapola, não há mais quem agüente.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Entraste, saudade
Estranha saudade
Entranha-se em mim, saudade
Emprenha-me de ti, saudade
Estou grávida do que nunca vai nascer

domingo, 26 de setembro de 2010

Tua boca semi-aberta é o convite,
Teu corpo trêmulo, a tormenta,
Teu fedor me atiça,
Teus abraços estranho,
Tantos beijos me possuem.

Rijo vou para onde quiseres,
Em tua umidade eu regarei,
Em teu corpo me encharcarei;
Chafurdado em ti me assustarei,
Entre tuas pernas me perderei.

Gemerei sem dor quando meu membro se impor,
Ao te virar, te travarei,
Ao me sentares relaxarei,
ignorando-te, gozarei.

Em teus braços dormirei,
ofegante e esperançoso
de tua boca me convidar de vez.


sábado, 25 de setembro de 2010

Obsessiv@

Queria fazer um poema para ti, mas só penso em mim. Farei, assim, um poema para nós. Não, esqueça! O poema será sobre terceiros. Não, melhor, será um poema sobre a dor que deveras sinto. Ou invento, ou cuido, ou finjo. Desisti de tudo que faria, pois quero te ouvir e te compreender. Apreender-te já seria demais, mistérios sempre existem. Na verdade sinto-me deseperado, querendo estar cada vez mais próximo de ti, sem, no entanto, nos sufocar. Quero dizer algo que te atinja tão profundamente que te transforme. Atingir-te não, tocar-te. Tocar-te seria suficiente para meu desejo? Pouco importa, ele é irrealizável. Queria desejar o teu desejo. Querer tua querência. Amar teu amor. Então em mim farei o poema para ti. Marcar-me ei de ti. Forjar-me-ei de ti. Inebriar-me-ei de ti. E realizar-me-ei de ti. Principalmente se te mostrares a mim; sei que quando te mostras não percebo. Pois te ouvirei. Diga para mim. Fale de si. Conte-me de mim.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

mortevidAMORtevida

Não vou morrer de noite, pois sei que o dia virá;
Não vou morrer de frio, já que o Sol me esquentará.
Vou viver de mar, pois viver é navegar,
Vou viver de luz, ela não me faltará.
Ao vento me criarei,
Ao raio encontrarei.
Entristece-me você viver de rio
E nunca chegar ao mar.

Com todo o meu brio,
Agora brado;
Você ser oposto ao sol é minha ruína,
Mas também minha redenção,
Minha angústia e salvação.
Ver-te todo dia, te contemplar  à noite
E não poder te tocar nem de quina.
Querer-te para mim já seria um açoite,
Já que não é de ninguém quando é mina.


terça-feira, 21 de setembro de 2010

Eu não posso postar a dor e mesmo que pudesse, ninguém comentaria. Tod@s precisam cuidar de suas próprias dores, acho que há mais dor no mundo do que pessoas...Car@s leitor@s, mesmo que vocês comentem a minha dor, ela não vai passar, então, não se dêem ao trabalho.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

À Z

Não tenha medo que o curar magoa.
Não tenha medo que o fazer supera.
Não tenha medo que o mudar avoa.
Não tenha medo que o amor ampara.

Supere seus medos para encontrar o inesperado,
Supere seus medos para fenecer o mistério,
Supere seus medos para encarar o inconformado,
Supere seus medos para reconhecer o despautério.

Sem medo lance um olhar ao mar,
E sem medo o ouça borbulhar;
Sem medo alcance o rio,
E sem medo se acolha do frio.

Esbarre com seu medo ao caminhar;
Desafie seu medo ao encorajar;
Ignore seu medo ao se entregar;
Respeite seu medo se a respiração mandar.

Se o medo à noite visitar, acalma,o dia já vai estar;
Se o medo de manhã espreitar, levanta, terá que lutar.
Se o medo assustar se aninhe.
Se o medo dominar se anime.
Se o medo machucar se resguarda.
Se o medo confrontar aguarda,
Que seu medo num quando não vai estar,
E então poderá se testar,
Nesse momento voltará a abraçar
Sem a necessidade de se embaraçar



                                                             

colar de sementes pretas,

Você sempre foi raio de sol, chegou com a manhã e foi embora com o anoitecer, mas deixou a noite para eu sonhar, noite longa e quente em que só sonhei contigo. Sonhei tão forte que fiz, fiz você sonhar comigo também... nos encontramos em nossos sonhos, brincamos, rimos, ficamos tão contentes que resolvemos nos encontrar acordados.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Mais um dia?


Hoje é um dia daqueles do qual não me lembrarei; amanhã não o recordarei, ontem não o pressenti, agora ele pouco me importa. É um dia em trezentos e sessenta e cinco ou em mil ou em milhão. Eu existo, o sol existiu e a escuridão posterior não se furtará em existir. Até o tempo insiste em sua existência. O dia que não se deixou foi um sonho, mas também não foi. Não desafiou minha loucura nem aferiu minha sanidade. Não doeu nem aliviou. Um dia que não entendi posto que o ignorei. Um dia que nasceu com a predestinação de todos os dias, que é a noite, que é o fim; no entanto nele nada aconteceu, nada vi, nada percebi. Sei que esse dia existiu por uma abstração, um exercício mental, pois tudo que desse dia senti foi eu.

eu não quis enlouquecer

Se eu queria enlouquecer essa é minha chance, mas eu não quero. Então, meu amor, me desculpe se eu estiver fedendo, mas é que seus beijos trazem uma delicadeza que a vida ainda pode ter, trazem um cheiro do nordeste no ar, trazem um verão diferente, trazem a mulher que não podemos reconhecer, trazem toda a dor que já senti num traço de carinho, trazem seu cheiro e o meu. Mas será que no dia em que eu aprender a virar estrela ainda serei lua. A cozinha ainda tem cacos de vidro, por mais que limpemos e a água não é mais insípida, não me importo! Gosto dos líquidos com sabor, gosto dos sentidos, gosto quase mais deles que dos pensamentos, mas estes são também tão sentidos e tão cheios de sentido.

sábado, 28 de agosto de 2010

A festa que sumiu


Fiquei muito triste mesmo e não foi para menos! Fiquei com pena de ver a menina levar seu grande amor e esperar, esperar... para lhe mostrar aquele segredo da infância. E o lugar, as pessoas e nem o segredo apareceram, todos faltaram ao grande encontro!
As casinhas de pau-a-pique se esconderam sob enormes lonas onde ninguém podia passar, os antigos alambiques não estavam lá para levantar o cheiro da cana no ar. De que adiantou a grande saia rodada se a ciranda não tocou, para ela ninguém pode dançar. O Pau de sebo também não estava alegrando @s bêbad@s e @s equilibristas! Tudo que se viu e se mostrou não era nada daquilo que ela queria mostrar, acho até que ela nem queria ver o que viu; ela viajou horas com seu amor e ansiou para ver seus olhinhos de boneca piscando com a alegria. Mas apareceram flores, uma tão linda que foi capaz de exalar seu perfume a noite toda. Eu agradeço á flor, acho que menina também agradeceria, mas ela não sabe escrever...e se soubesse, não iria querer contar essa história. Estou desconfiada de que a menina entrou nas antigas casinhas e resolveu morar lá, só aparece ás vezes quando quer falar comigo, mas deixou uma mulher , que ela confia muito, eu ainda estou conhecendo essa mulher, ela é um pouco confusa, mas é alegre e carinhosa, aos poucos vou gostando dela também...

vamos colocar aqui um escrito que gosto muito, é da Rita Apoena

Eu não tenho cabelos vermelhos e o meu vestido não é amarelo. Eu sou só uma menina invisível, deitada na grama invisível que a moça que não sabia desenhar, não desenhou. Aquele é o menino que eu não lhe falei. Ele sempre está preso num único instante; o instante em que o moço que sabia desenhar, o desenhou.

O balão que subia as nuvens, com várias crianças chamando, teve de desviar o caminho, pois não fazia parte desse desenho. O avião que trazia uma faixa, com linda declaração de amor, teve de mudar a rota, pois neste céu azul é que não foi desenhado. O pombo-correio que veio voando de fora da imagem, bateu o bico na borda e caiu. Por isso, o menino está sempre só.

Se as crianças do balão não conseguiram. Se o avião também não conseguiu. Se nem o pombo-correio teve sucesso, como é que eu, uma menina invisível, feita de palavras, poderia chegar até ele? Foi o que passei dias e dias pensando. Então, numa de minhas viagens, ouvi dizer que uma imagem valia mais do que mil palavras. Não tive dúvidas. Abri a oficina invisível, acendi as luzes transparentes e comecei a construir este imenso abraço de palavras. De mil e duas palavras. Para, um dia, entregar a ele.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Epidêmico



A ilusão do armistício acabou. Quem eu sou e quem eu deveria ser declararam a guerra latente em mim. A história desta guerra não é contada por mortos ou sobreviventes, é cantada pelo vivente, que assim o é por não poder ser outra coisa. O louro desta disputa é a sanidade, a loucura com método; é a produção na qual a potência deve se realizar
O ser e o dever ser não se desejam mais, talvez nunca tenham se querido, nunca tenham se apaixonado. É provável que sequer se conhecessem. Impregnam meus sentidos, tentam acordar uma paz fatídica na utopia renovada e estes, num espelho sem aço e sem vidro, não vêem seus reflexos no mundo.
O capitalismo global e includente me jogou em sua roda, me deixou a queimar mansamente em sua fogueira de vaidades. A necessidade do capital excludente não me abre possibilidades, não respeita minhas liberdades. Os carinhos, a atenção, a solidariedade que me gracejam são embustes quando colididas com os interesses do lucro.
Não confio na realidade; não que eu duvide dela, apenas não consigo me exercer nela, não posso despencar meu corpo nem meu amor em seu abismo, pois sei que o fundo não chegará. E desta realidade capenga de sentido, abalroada de sinais, se ergue um castelo de cartas que meus sentimentos constroem e a vida destrói.
Nesse embate meu juízo não ajuíza, meu dever ser não se impõe, meu ser não se assossega, minha razão não reina, minha dor não cura, meus sentidos não apontam, e eu, perdido no Outro e em mim, não sei mais quem eu quero ser. Preciso relembrar por que eu quero ser.

domingo, 15 de agosto de 2010

Quando te desejo
Desaprendo a mentir,
O que em ti vejo
Me obriga a reprimir.
Procuro teu rastro,
Esforço vão,
Nesse momento castro,
Me povôo de ilusão.
Olho-me para poder te rever,
Pois o que em ti vejo
Não consigo reaver,
Não mais elejo, não mais ensejo;
É que tu com ele,
No pronome plural reto,
Rechaça minha pele
E não te acarinho, apenas me afeto.
Vejo os vossos nós,
Por que o que em ti vejo
Não é mais o nosso nós,
É com quem pelejo.
Esse pensamento que me atormenta
Não me deixa te possuir;
Mesmo quando vens sedenta
me acovardo em nos punir.
O que em ti vejo
Não reflete mais em mim;
Assusto-me com o que prevejo
O inexorável alívio do fim.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Ah, mas ela é gostosa!




Se se faz de difícil é porque quer dar
Se bota as pernas de fora é para montar
Se a língua umedece os lábios, lá vai ela chupar
E os mistérios que tem, ninguém vai contar? Serão os mistérios de sua condição?
Ou serão os segredos para se proteger de seus medos?
Se arranja um novo emprego é para seduzir
Se arruma um novo amigo é para ferir
Passa um ano seduzindo para consumir e depois de consumida é desprezada.
Mas isso não é nada, sabe que é gostosa e isso é o quanto vale sua prosa.
Passa uma noite para amar e depois de correspondida é deixada.
Mas isso não é nada, sabe que é gostosa e isso é o que vale para a gozada.
E o que existirá por trás daquilo que se quer enfiar? Alguém se interessaria? Ou seria mais uma na orgia?
Mostra-se gostosa, se mostra prosa e, nesse caso, é ardilosa.
Mostra-se humana, se mostra puritana e, nesse caso, é para quem se engana.
Os homens a querem como troféu enquanto é obrigada a sonhar com um véu.
Quer ganhar a disputa e para isso é obrigada a se forjar puta.
E se por trás daquele tesão houver confusão? E se há alguém que pensa? Se é intensa?
Isso não interessa, tudo vale o quanto pesa. E o que acha não vale tanto quanto sua racha.
Quer seu lugar no mundo, mas só querem lhe enfiar fundo.
E se for profundo, mostra seu mundo. E se ele for lindo é diminuído. Não por ser tímido. É por ser gostosa e isso é tudo que deve ser querido.
E para quem serviu a libertação sexual? Para essa não, ela só quer o mal, o que fizer será amoral, pois é gostosa. Cometeu um pecado que não será perdoado. Será julgada por ser mulher. E será condenada por saber o que quer.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Do horror de uma terra sem perdão


Dos vencidos nos vem a lição,
Dos oprimidos o grito de não.
Mas se a dor se torna vingança esta mata a esperança,
Mas se o holocausto não é apreendido este é revivido
Mas se no muro o lamento é islamista, Auschwitz se torna sionista
E dos judeus se ergue um estado terrorista
E dos hebreus o horror na vista,
E no Líbano o horror no tímpano,
E no santo sepulcro o horror do lucro
E em gaza o horror devassa.
Na terra prometida não há vida
Em Jerusalém não há mais amém
Nos tons variados sobressai o encarnado
Egito não toca seu apito
Estados Unidos para deixá-los munidos
Comunidade internacional para referendar o mal
Ética se corrompe em limpeza étnica
Intifadas se tornam piadas diante de armas teleguiadas
E para cada novo Hamas o mundo brada, “não amarás!”
E para cada seis dias sessenta vidas
E para cada sessenta anos, milhares subtraídas
Perdidas não, que não foram em vão
São baixas na luta pela justiça dos futuros dias
Já que novos messias sempre virão

quinta-feira, 29 de julho de 2010

atirA(s)(R) -TE na história


Arte não é sobre-humana, arte não é redenção, arte é arte. É ode ao tempo que é o seu, é tempo da arte que não é atemporal. Se não datada, historicizada; se maior manifestação da criatividade humana, maior encontro ao limite da prisão. Condicional, racional, enquanto experimental; ilusora, não libertadora. Surge do pensar não do sentir, que este é só o caminho imediato daquele. Arte é conseqüência coletiva travestida de superação individual.
Metafisicamente ou historicamente o poema mais belo de Neruda não difere de um folheto sobre escovação dental.

sexta-feira, 18 de junho de 2010


Ensinou-me que as palavras não dão conta do que querem falar. Que os escribas não precisam temer. Que entonação e pontuação não se determinam. Que o deboche é uma arma poderosa contra as injustiças. Que se pode falar do grave subtilmente. Que a linguagem sempre está em movimento. Que os escritos são únicos e incomparáveis. Que não há distinção entre o quê e como se fala. Que as conversas das mulheres mantém o mundo em sua órbita. Que a História pode ser contada pelos oprimidos. Que a morte só é obscura se não sabemos por que vivemos. Que uma simples história de amor carrega o peso do mundo. Que na pós modernidade ainda há espaço para intelectuais revolucionários. Que a velhice é apenas uma fase da maturidade. Que o fardo dos escravos cria novas possibilidades. Que o tempo da palavra não é o tempo de sua comunicabilidade.
Poderia aprender tudo isso com outros pensadores, com livros densos e herméticos, mas me fez apreender tudo isso ao ritmo de um belo e simples fado.

quinta-feira, 17 de junho de 2010




Um dia te conheci e nesse dia te amei
Outro dia te precisei e nesse dia te cansei
Mais um dia veio e não te notei, nesse dia te decepcionei
Teve um dia em que chorou, nesse dia te acarinhei
E assim nos apaixonamos
Paixão louca, que como paixão que é, vício sempre foi
E nessa coisa de se apaixonar nossas doenças se quiseram
E as libertamos para que pudessem contaminar a todos, que nunca são os outros
Para que pudessem nos dominar e assim podermos nos praticar

sábado, 12 de junho de 2010

Do Fim ao Afim


Não há prazer que permaneça
Não há dor que perdure
Não há dia que esclareça
Não há leveza que dure
Não há abraço que aqueça
Não há revolução que cure
Não há lugar que apeteça
Não há ponta que fure
Não há tempo que esqueça
Não há esperança que jure
Há apenas assim
A certeza do fim
Do amor que adote
O desejo da morte
Que é sempre sentido
Que não é argüido
Que nunca é ilusão
Que há tempo demais pulsão
Natural, passional, amoral
Que não agora
Que não há hora
Que não anterior
Só ulterior, posterior enfim.