sexta-feira, 18 de junho de 2010


Ensinou-me que as palavras não dão conta do que querem falar. Que os escribas não precisam temer. Que entonação e pontuação não se determinam. Que o deboche é uma arma poderosa contra as injustiças. Que se pode falar do grave subtilmente. Que a linguagem sempre está em movimento. Que os escritos são únicos e incomparáveis. Que não há distinção entre o quê e como se fala. Que as conversas das mulheres mantém o mundo em sua órbita. Que a História pode ser contada pelos oprimidos. Que a morte só é obscura se não sabemos por que vivemos. Que uma simples história de amor carrega o peso do mundo. Que na pós modernidade ainda há espaço para intelectuais revolucionários. Que a velhice é apenas uma fase da maturidade. Que o fardo dos escravos cria novas possibilidades. Que o tempo da palavra não é o tempo de sua comunicabilidade.
Poderia aprender tudo isso com outros pensadores, com livros densos e herméticos, mas me fez apreender tudo isso ao ritmo de um belo e simples fado.

2 comentários:

  1. Para o ateu não existe o 'após'. Ele vive e acredita exclusivamente no 'durante'. O ateu não se ilude com um utópico renascimento, ele simplesmente vive (ou não) as possibilidades da existência. Pensar em inexistir, como disse Nietzsche, também nos conforta. Saramago agora não crê tampouco duvida de mais nada. O tempo que teve para dedicar-se a isso, ele aproveitou bem... EM VIDA. Tomás Paoni

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  2. a mais bela homenagem que vi! no fazer história não morremos nunca...

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