sábado, 27 de novembro de 2010

Falsa idade





Se eu depender do meu amor para ser amado,
Estou ferrado;
Seria um amor esquizofrênico, o amor de um torturado pelo seu torturador,
Um estranho amor.

Amor requerente do meu querer
Que comigo quer viver;
Amor carente, afluente de mangue
Que se acaba em lama de sangue.

Amor mor obrigado pelo outro,
Mas inalcançável ao outro mor,
Rezado em cartilhas,
Que de memória tenho de cor.

Amor que eu deprecio,
Enquanto me estupra,
Por que só no meu cio
Me encrua.

Mas desse amor dependo
Enquanto me defendo,
Para poder ter outros amores,
Para ser confortado em minhas dores.

Se do meu peito virem
Formas multicoloridas saírem,
Saibam que guardei em mim a sombra escura,
Ficou engendrado em mim o que corta e sutura.

Mas a certeza da tristeza,
Obriga-me a me acarinhar com firmeza.
Preciso acabar com essa vitimizada piedade,
Até por que já passei da idade.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

"As àrvores são fáceis de achar..."


Subi numa árvore
Não era mangueira, amendoeira ou figueira.
De lá só vi pedreiras.
Desci, pois passei a pensar besteiras,
Pensei em atirar pedras a esmo,
Para ver se alguma era bumerangue
E voltaria na minha cabeça,
Se me tiraria sangue.
Encontrei uma clareira,
Mas fiquei no precipício à beira
E mais uma vez pensei besteira:
Que eu poderia voar sem asas,
Flutuar de leve,
E terminar em breve
Esses dias que não têm mais sentido.
Não para ser ouvido,
Mas para ver de cima,
Se era realmente aquela jaqueira.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Tradução livre de There There de Thom Yorke


A plenos pulmões, pela escuridão, passeio em sua paisagem,
A densidade da floresta dificulta meu caminhar e impede minha voz de sair,
Só porque você sente não quer dizer que exista!
Só porque você sente não quer dizer que exista!
Uma sirene sempre a avisar,
Enquanto foge.
Evitemos desastres, contornemos as pedras,
Enquanto foge.
Só porque você sente não quer dizer que exista,
Então sinta,
E diga-me por que tão insegura e solitária me foi enviada?
Isso acende minha certeza de que
Somos apenas acasos esperando para acontecer,
Somos apenas acasos esperando para acontecer.


sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Crisis

Não há contágio,
Não há o que temer.
Se vibra, não é ensaio,
É a vida que vai desvivendo;
Que está perdida,
Que não tem mais norte,
Nem é dirigida.
Está à sorte.
Se não perdeu seu sentido biológico,
Perdeu-se em meio aos sinais,
Não se sabe mais o que faz;
Será um eterno desfaz e refaz,
Sem um momento de paz ou de estabilidade,
Sempre em crise (é condicional).
E se em algum momento a brisa acalma,
Arranja-se um conflito, um tufão a sorver,
Visto que inimigos sempre hão de ter
Que os dias sempre vão correr
Nesse mundo que dá voltas em si mesmo,
Achando que assim não ficará a esmo,
Achando que a referência do Sol é suficiente,
Ignorando outros sóis existentes,
Pensando que a Lua orbita apenas por sua influência
E se esconde assim na ciência.
Mas não a sua, transcendental,
E sim a humana, sempre servil,
Isso para não dizer vil.
Talvez seja besteira
De uma cabeça que percebe a clareira
E tudo que é verde em tom pastel:
Sol, Lua ou Terra não são de saber,
Ao menos a sapiência que impomos;
Essa mesma que não é contagiosa
E cria sentidos que não dão conta
Do que é humano ou além;
É inexoravelmente aquém.
Então confunde,
Cria a angústia, sempre perturbadora;
Por vezes, com a força criadora,
Por vezes destruidora.
É que não somos nós, tão somente, que damos o sentido;
É-nos dado enquanto resignificamos,
Mas ele já vem maculado, corrupto.
Como fazer nascer de algo podre o saudável?

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

doente?


essa doença que não me abandona
só me faz querer mais
mais boicote
mais desilusão
mais dor
mais compaixão
e menos
menos companheirismo
menos cuidado
menos sensibilidade ao outro
não percebo à minha volta
e vou me afundando
chafurdando em minhas dores
preciso da minha força
mas pouco me faço carinho
só me arrebento
me bato sem dó
mas com muita piedade
piedade demais
sou como a criança que se perdeu no mercado
e chora ansioso pelo colo da mãe
carrego um saco de chumbo
sem chumbo e sem saco
o único saco que existe é o meu
e ele já está cheio de mim

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

A TENÇ(S)ÃO


Ando por aí vomitando minhas tristezas,
Arrotando minhas insatisfações,
Regurgitando falhas e tesões.

Por aí me faço ocupando muito espaço
E pelo mundo me faço fraco e vitimizado
Para que não seja visto meu original pecado.

Importa-me o que os outros pensam,
Principalmente se for sobre mim,
Mas só me satisfaço se disserem que estou perto do fim.

Parece que meu amor veio cobrar suas dívidas,
Assim passo pelas pessoas cobrando pedágio.
Quero que me reconheçam como Midas,
Que me encarem como presságio.

Este momento passará,
No entanto quero aproveitá-lo,
Para quando voar de minhas costas novos pássaros
E dos meus lábios surgirem Arcos-Íris,
Eu não precisar revivê-lo.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Cita-me ou me excita?

trocadilho bobo,que pareceu bela abreviatura de uma questão feminina.
é tão raro ver referencias à mulheres, principalmente em trabalhos cujos os autores são homens. Raro não é a palavra certa, talvez não haja, talvez eventual seja a palavra. em nossos livros, trabalhos...quantas mulheres citamos em proporção aos homens...isso tudo é bobagem, devaneio,reflexo da divisão sexual do trabalho, enfim...tudo que já sabemos tão bem que continuamos a fazer igual, talvez por ser tão conhecido.
A mulher citada é excitada ou incitada, a mesma coisa da história acima...o protagonismo do pessoal da limpeza ou a historia das mulheres...