quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O que somos?





Cada  gota não é toda a chuva ;
Cada  dia não é todo o tempo.;
Cada um não é todo mundo.;
Cada amor não é toda a vida;
Mas no deserto, pingos;
Na escuridão, o  alvorecer;
Na espaço, um encontro;
Na existência, algum sonho;
É tudo que se pode ter.

O que a mais se experimenta,
O que mais se deseja,
Se mais se almeja,
Se verá caído em ilusâo.

Ora,  o que é viver sem se iludir?
O que é pensar sem criar?
O que é querer sem poder?
O que é fazer sem sentir?

É tudo que somos,
É tudo que a prisão nos permite,
É tudo que a condição nos conduz,
Sem a quimera da revolução.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O que faço aqui?


Sou ser estranho no espaço,
No tempo, em mim,
Nesses dias sem fim.

Não sei mais se aqui estou,
Não sei mais se estou,
Mas é inegável que sou,
Mesmo quando tudo já sangrou.

Duas pessoas se encontrarem
E juntos viverem,
Não é racional,
Mas se afastarem é anormal.


segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Mar doce




Sou como o peixe que sobe o rio
Para  deixar seus ovos na cabeceira.
E não desisto!
Enfrento os medos que crio
E contra as correntes, forço minhas nadadeiras.

Não importa se lá vou deixar meus futuros,
Se lá vou chegar,
Se vou morrer no que não aturo.
O importante agora é nadar,
Enfrentar o redemoinho e esperar,
Esperar que o tempo me diga,
Diga o que realmente esperar.

Um acontecimento mágico
Como nadar em salgado mar, peixe doce
Ou  rotineiro
Como uma decepção, um coice.


quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Mar alto


Aqui estou só
Numa noite às cegas.
Isso nem é o pior,
Isso me faz piegas.

O pior é a cegueira do futuro
E não saber o que virá do presente
E descobrir até onde aturo
E até quando serei sobrevivente.

O rio desistiu de me alcançar,
Eu também me revoltei em ressacas
E me furtei da bênção de ser mar,
Desisti de minhas conquistas parcas.

Agora quero viver de novo,
Avançar em tsunamis;
Quero arrancar a casca desse ovo
Para nada ser como dantes.


Corrompido, coagido, corroído, comido;
ardido, doído, fudido, muído.
Encardido enrustido, entristecido embrutecido.
Repartido, sorvido vivo.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Ao Paraíso

Amarramo-nos com arame afiado;
Um ao outro.
Cortamo-nos cada vez que nos mexemos;
Um pelo outro.
Machucamo-nos cada vez que corremos;
Um contra o outro.
Viramo-nos para ver o que se enxerga, ele nos aperta;
Um para o outro.
Precisamos, desse arame, nos desvencilhar;
Um com o outro.
Para novos limites descobrirmos;
De um e de outro.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Presente.



Sua presença é imensa.
Parece um elefante
A sentar no meu quadrante;
Parece uma doença.

Sua presença é ignorante.
Me menospreza
Enquanto pesa;
Me é humilhante.

Sua presença é confusa.
É tão incerta como a chuva
Depois de uma trovoada escusa;
É tão intrusa.

Sua presença é saudosa.
Quando está comigo não sei ter,
Quando não está, só sei querer;
Está nervosa.

Sua presença é inconstante.
Não sei se é próxima,
Se é lástima;
Se dura por mais de um instante.

Sua presença é explosiva.
Minhas regras estoura e
Minhas certezas apavora;
Sempre reativa.

Sua presença é estranha.
Devora minha razão,
Desvirtua meu tesão;
Me entranha.

Sua presença assusta.
Não sai dia que não me tome,
Não entra noite que não me dome;
É como a fome.