Dizem que o amor pode salvar sua alma. Dizem que amar demais dói. Nós que nos amamos tanto dizemos que o amor é leve, mas nunca suave, pois a profundidade e a intensidade do amor não podem reconhecer a suavidade. Esta só existe em um sorvete de morango!
Como é gostoso receber o amor infantil! Não acredito que seja um amor mais puro ou desinteressado, mas a forma como os pequenos veem o mundo é tão singela, única e ao mesmo tempo tão conhecida por nós, pela criança que carregamos conosco, que basta um gesto de carinho, uma brincadeira inocente para podermos liberar nossos sentimentos. Ao chegar no Cumapadre, o abracei e chorei um pouco em seu ombro, quando a criança percebeu e perguntou à mãe: "o que que tá doendo no tio Pedro?" Aí só deu ela. Fomos para um bar na Urca, à beira mar, muito gostoso e aprazível. Corri, brinquei, ri, fiz cócegas, carreguei ela de todas as formas, no meu ombro, de cabeça para baixo, nas minhas costas, dependurada em mim... Fomos brincar no Píer e enquanto conversávamos sobre o que realmente faz sentido como monstros marinhos, sereias, garças que afundam, famílias de siri, quantos barcos existem, com a pequena enganchada em mim, motivada pela agonia que o mar lhe causava, algo meio mórbido, meio inocente, tangenciou-me em algum lugar de minh'alma. Uma vontade de me jogar no mar com ela. Minha vida e a dela poderiam acabar ali, já era suficiente a dor que eu vivi e a que ela viverá, para além de suas dores de criança, que até me pareceu crível tamanha insanidade. Olhei para trás, vi a mãe dela e meus pensamentos suícidas e homicídas fugiram.
Fragmento de carta enviado à Daniel do Vale em 19 de Dezembro de 2010
Um dia solto, sem compromissos, sem preocupações, sem obrigações só me angustia.
Preciso botar rédeas nesse dia, domá-lo com maestria, amansá-lo com afinco para eu conduzi-lo pelos meus caminhos.
Ou melhor: alazão em disparada, assustado, abestalhado, patas desembestadas, com suas idéias selvagens, mostra-me para onde se guia.
Haverá um meio termo, um equilíbrio?
Um centauro de pernas livres e mente passeando pelo tempo?
Não há condução que me livre dessa condição?
Para onde olho, me assusto,
Por onde caminho, me frustro
Será que é o momento de abrir a minha estrada para posteriormente ser pavimentada?
Ou espero algum tempo os caminhos decidirem entre si e aí sim abrir a clareira?
Que não me falte a dialética
Faço-me ao fazer
O caminho no caminhar
A vida no viver
Que já se disse é navegar
Nossos corpos ardiam, nossa paixão gritava, implorava por mais, pelo querer, nosso desejo uivava, nossos toques eram o extrapolar de sentimentos confusos, angustiantes e profundos. Todas as nossas palavras tinham sentido, batiam forte, nada era superficial, não havia verbo que não se anunciasse, nenhuma vírgula era perdida...No entanto, como um bichinho acuado, el@ fugiu, refugou, foi se confortar no conhecido. Desperdiçou o mistério da vida, que é o melhor que ela pode oferecer. Mas já era, já está confus@, terá que se anular em si. Para neuroses e boicotes não há limites...
Não precisa de tanta amargura,
pétalas voarem faz parte
do rigor das estações,
mas mostre-nos o verão.
Então vamos, levante;
mostre que ainda é flor,
apesar de tanta ignorância
e de sua beleza não ter ciência.
Vamos, se aprume,
revele do que o belo é feito;
leia o caminho e rume,
ponha para fora o entranhado em seu peito.
Livre-se dessas picuinhas oportunistas,
senão, para que espinhas?
Nas ruas, peregrina,
todos ficam a passeio
e você fica a deriva;
deixe o tempo de germinação para trás,
se mostre além do botão agora, ação!
O tempo urge e você precisa.