Dizem que o amor pode salvar sua alma. Dizem que amar demais dói. Nós que nos amamos tanto dizemos que o amor é leve, mas nunca suave, pois a profundidade e a intensidade do amor não podem reconhecer a suavidade. Esta só existe em um sorvete de morango!
Como é gostoso receber o amor infantil! Não acredito que seja um amor mais puro ou desinteressado, mas a forma como os pequenos veem o mundo é tão singela, única e ao mesmo tempo tão conhecida por nós, pela criança que carregamos conosco, que basta um gesto de carinho, uma brincadeira inocente para podermos liberar nossos sentimentos. Ao chegar no Cumapadre, o abracei e chorei um pouco em seu ombro, quando a criança percebeu e perguntou à mãe: "o que que tá doendo no tio Pedro?" Aí só deu ela. Fomos para um bar na Urca, à beira mar, muito gostoso e aprazível. Corri, brinquei, ri, fiz cócegas, carreguei ela de todas as formas, no meu ombro, de cabeça para baixo, nas minhas costas, dependurada em mim... Fomos brincar no Píer e enquanto conversávamos sobre o que realmente faz sentido como monstros marinhos, sereias, garças que afundam, famílias de siri, quantos barcos existem, com a pequena enganchada em mim, motivada pela agonia que o mar lhe causava, algo meio mórbido, meio inocente, tangenciou-me em algum lugar de minh'alma. Uma vontade de me jogar no mar com ela. Minha vida e a dela poderiam acabar ali, já era suficiente a dor que eu vivi e a que ela viverá, para além de suas dores de criança, que até me pareceu crível tamanha insanidade. Olhei para trás, vi a mãe dela e meus pensamentos suícidas e homicídas fugiram.
Fragmento de carta enviado à Daniel do Vale em 19 de Dezembro de 2010