Como é gostoso receber o amor infantil! Não acredito que seja um amor mais puro ou desinteressado, mas a forma como os pequenos veem o mundo é tão singela, única e ao mesmo tempo tão conhecida por nós, pela criança que carregamos conosco, que basta um gesto de carinho, uma brincadeira inocente para podermos liberar nossos sentimentos. Ao chegar no Cumapadre, o abracei e chorei um pouco em seu ombro, quando a criança percebeu e perguntou à mãe: "o que que tá doendo no tio Pedro?" Aí só deu ela. Fomos para um bar na Urca, à beira mar, muito gostoso e aprazível. Corri, brinquei, ri, fiz cócegas, carreguei ela de todas as formas, no meu ombro, de cabeça para baixo, nas minhas costas, dependurada em mim... Fomos brincar no Píer e enquanto conversávamos sobre o que realmente faz sentido como monstros marinhos, sereias, garças que afundam, famílias de siri, quantos barcos existem, com a pequena enganchada em mim, motivada pela agonia que o mar lhe causava, algo meio mórbido, meio inocente, tangenciou-me em algum lugar de minh'alma. Uma vontade de me jogar no mar com ela. Minha vida e a dela poderiam acabar ali, já era suficiente a dor que eu vivi e a que ela viverá, para além de suas dores de criança, que até me pareceu crível tamanha insanidade. Olhei para trás, vi a mãe dela e meus pensamentos suícidas e homicídas fugiram.
Fragmento de carta enviado à Daniel do Vale em 19 de Dezembro de 2010
Dizem que o amor pode salvar sua alma. Dizem que amar demais dói. Nós que nos amamos tanto dizemos que o amor é leve, mas nunca suave, pois a profundidade e a intensidade do amor não podem reconhecer a suavidade. Esta só existe em um sorvete de morango!
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
Sono Amazônico
Enquanto o dia te confronta,
E a noite te assusta,
Você reage assim,
Se encrua,
Em seu sono amazônico,
Que suprime espaços, tal um supersônico.
Se a dor do teu ventre sobe,
Se arraiga em sua mente,
Seu luto você precisará mentir,
Mas não há pecado a confessar,
No seu sono, o amazônico,
Que, de tão leve, irônico.
E quando o amor egoísta franze a tez
Lhe exige desculpas pelo que és,
Lhe induz a afirmar o que nega:
A distinção entre fato e amor que não enxerga.
Então vá para o seu amazônico sono
Que, quem sabe amanhã, será o tônico.
Onde o sol ilumina,
Mais uma bifurcação em sua trilha,
Não confronta,
Não confunde,
Não encara.
O breu lhe conforta
Neste seu sono, amazônico,
Que já se faz crônico
Entretanto a ausência dói,
O querer não mais te compraz.
O tempo precisa ser conjugado
Para reparar seu sono;
Aquele seu sono, o amazônico,
De perto trágico, de longe cômico.
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